Apresentação

A Revista Brasileira de Estudos da Canção – RBEC é uma publicação online, semestral, destinada a estudos na área de Música Popular. Ela é fruto do projeto de pesquisa “Modelos de Análise da Canção Popular: uma Abordagem Interdisciplinar” (PIC6124-2010-PROPESQ-UFRN), por nós coordenado em 2011. Reestruturado, retoma suas atividades em 2012 como “Grupo de Estudos Interdisciplinares em Música Popular” (PIJ7873-2011-PROPESQ-UFRN), e congrega professores e alunos de graduação e de pós-graduação para sessões de discussão de textos, exibição de documentários e audição de gravações, tendo como denominador comum a Música Popular, qualquer que seja sua origem ou época: blues, samba, soul, bolero, jazz, hip-hop, chanson, pop, reggae, choro, rock.
A RBEC acolherá trabalhos que versem sobre a Música Popular em quaisquer vieses de análise, sejam eles musicológicos, sociológicos, antropológicos, literários, filosóficos etc. Entende-se por Música Popular aquela surgida e consolidada com o aparecimento de núcleos urbanos, cujos compositores são imediatamente identificáveis e cujo produto é veiculado, como bem cultural, pelo rádio, pela televisão ou pelos vários suportes de armazenamento do som gravado, desde o cilindro de cera ao arquivo em mp3.
Por essa lógica, e considerando-se o caso brasileiro, seriam tópicos de interesse para a Revista gêneros como a Modinha, o Lundu, o Choro, o Samba (e todas as suas ramificações), a Bossa Nova, a Jovem Guarda, as canções de Protesto, a Tropicália, o Clube da Esquina, o Rock Brasil dos anos 80, o Mangue Beat, o Funk carioca etc. Textos que analisem canções ou que tratem da vida e obra de compositores populares também são de interesse, sejam eles Domingos Caldas Barbosa, Chiquinha Gonzaga, Anacleto de Medeiros, Pattapio Silva ou Catulo da Paixão Cearense; Noel Rosa, Mário Reis, Francisco Alves ou Orlando Silva; Dorival Caymmi, Luiz Gonzaga, Adoniran Barbosa ou Lamartine Babo; João Gilberto, Tom Jobim ou Vinicius de Moraes; Chico Buarque, Caetano Veloso, Milton Nascimento ou Elis Regina; Renato Russo, Cazuza ou Lobão; Chico César, Lenine, Adriana Calcanhotto, Zeca Baleiro ou Arnaldo Antunes.
Compositores oriundos da esfera erudita não são de interesse para o enfoque da RBEC, a menos que transitem em território limítrofe com a Música Popular (caso de Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga), ou que sejam tratados em trabalhos que estabeleçam aproximações entre aquela tradição e a Música Popular. Do mesmo modo, o repertório da Música Folclórica (aquela passada de geração em geração, usualmente de autor desconhecido e não comercializada) foge aos interesses diretos desta Revista, podendo ser incluído na RBEC apenas em abordagem interdisciplinar com a Música Popular.
Todo o argumento exposto acima é válido para outras tradições em Música Popular, sejam elas anglo-americanas, hispânicas, francesas etc. Assim, no primeiro caso, seriam de interesse para a Revista gêneros e intérpretes/compositores como: blues (Robert Johnson, Muddy Waters, Howlin’ Wolf), jazz (e todos os seus subgêneros: cool, swing, bebop etc.), música country, música folk (Woody Guthrie, Bob Dylan, Joan Baez), rock (e os seus subgêneros: rock’n’roll, hard rock, heavy metal, punk etc., por exemplo, de Chuck Berry e Elvis aos Beatles e Stones, do Led Zeppelin e Black Sabbath ao Iron Maiden, dos Sex Pistols ao Nirvana), e assim por diante. Trabalhos sobre gêneros e artistas menos conhecidos, ou mesmo desconhecidos, são igualmente bem-vindos, desde que se enquadrem na categoria Música Popular.
Esperamos que a RBEC sirva de inspiração a novos pesquisadores da Música Popular. Em vários centros acadêmicos no exterior, os cursos de graduação em MP já são uma realidade, e na Liverpool Hope University, já existe um mestrado (primeiro do mundo), sobre os Beatles. Para nossa alegria, seu coordenador, o Prof. Dr. Mike Brocken, nos brindou com um artigo para o número de estreia da RBEC, comentando essa conquista da Música Popular no âmbito acadêmico.
Assim como o exemplo de Liverpool, cujo Mersey Beat é patrimônio universal, pensamos que também a Música Popular Brasileira merece projeção internacional. Sendo assim, desejamos que a RBEC seja um portal de divulgação desse rico repertório, seja em análises isoladas, seja em leituras comparatistas com as tradições musicais de outras latitudes.
A todos, o meu abraço lítero-musical.
Lauro Meller
Organizador
Professor de Práticas em Leitura e Escrita em Português e Inglês, na Escola de Ciências e Tecnologia da UFRN, em Natal. Doutor em Letras pela PUC-Minas, com a tese “Poetas ou Cancionistas: uma discussão sobre a canção popular brasileira em sua interface com a poesia da série literária”. Mestre pela UFSC, com a dissertação “Sugar Cane Fields Forever: Carnavalização, Sgt. Pepper’s, Tropicalia”. Músico afiliado à OMB (Baixista, Guitarrista, Violonista) e à IASPM (International Association for the Study of Popular Music).